Complexa distribuição


Por Carolina Lopes Brito, Hélen Cristina de Paula, Israel Marinho Aparecido



O crescimento populacional nos últimos anos trouxe consigo vários problemas no abastecimento em Mariana. Sem grandes mudanças na estrutura de fornecimento, a falta d’água é um problema constante e que atinge a maioria dos bairros da cidade. Para ilustrar a situação, visitamos três diferentes bairros, Rosário, Cabanas e o Centro.




Cabanas: muita gente, pouca água
Situado na saída da cidade, é um dos mais afetados pelo forte crescimento populacional, graças, principalmente, às expansões das mineradoras. Várias pessoas que se mudaram para lá ocuparam áreas particulares de forma ilegal, fazendo ligações irregulares de água. Estas áreas ocupadas estão na parte alta do bairro, próxima ao principal reservatório, o que afeta a distribuição aos demais moradores.
Na parte baixa, a situação é um pouco mais preocupante. Como a água chega escassa e sem pressão, não consegue atingir todas as casas. Morador do bairro há 20 anos, Antônio Alvimar afirma que o problema é antigo. “A pior época é de agosto a outubro. Meus netos sofrem muito com isso, têm que vir sempre tomar banho na minha casa, porque minha caixa d’água é grande, tem 2.000 litros”, conta.
A dona de casa Rosiléia Aparecida Cassemiro também reclama: “as crianças são as mais prejudicadas, em especial quando ficam sem aula devido à falta d’água”. Procurada, a direção da Escola Municipal Monsenhor José Cotta, a principal do bairro, não quis se pronunciar a respeito.




Rosário: a água não é para todos
Escritório do SAAE em Mariana - MG
Foto: Carolina Brito
O Rosário é outro bairro bastante castigado pela falta d’água. Por possuir uma grande área, durante a reportagem foi possível perceber contrastes na distribuição de água.
Na parte alta existem terrenos particulares ocupados de forma irregular. As pessoas que moram nesta área não possuem nenhum sistema de abastecimento regular e a água que chega é proveniente de uma nascente próxima. A gari Adriana Ferreira Guimarães conta que a situação é preocupante e espera ajuda do SAAE (Sistema Autônomo de Água e Esgoto). A Escola Municipal Dom Luciano Mendes de Almeida fica próxima desta área, mas diferentemente de parte da população, não sofre com a falta d’água: “Todo dia o caminhão-pipa enche a caixa d’água de lá”, completa a moradora.
No restante do bairro, o maior problema são os diferentes sistemas de distribuição, que causam uma desigualdade entre os moradores. Foi possível perceber numa mesma rua que uma casa tinha água em abundância, enquanto outra sofria há dias com a falta d’água. Moradores nos relataram que este problema aconteceu pela falta de controle da prefeitura nas obras da cidade. Sem fiscalização, as pessoas que construíram casas fizeram ligações irregulares, prejudicando seus vizinhos.
        A dona de casa Lúcia de Fátima Silva é moradora da Rua Jacarandá, uma das principais do bairro, e se diz revoltada com a situação. “Aqui na rua é um absurdo. Hoje estava sem água pela manhã, mas a minha vizinha ali da frente lavava a calçada e deixava a água ir embora, na boa.” Ela diz que o SAAE já foi à sua rua para tentar solucionar o problema, mas nada foi resolvido.




Centro Histórico e Comercial
Comércio é bastante afetado pela falta d'água
Foto: Carolina Brito
Uma das principais ruas da cidade, a Rua Dom Silvério, está em uma área de patrimônio tombado. Os moradores dificilmente sofrem com a falta d’água. O empresário Luciano Rola  explica que para o abastecimento há uma caixa d’água do Século 18, que até hoje abastece esta região de Mariana. Segundo ele, o maior problema da cidade é o desperdício: “Sou a favor da cobrança de água”, completa.
Na mesma rua fica o Colégio Providência, escola particular tradicional da cidade, que possui um poço artesiano para atender as dependências escolares e algumas casas próximas.
    Embora seja a área mais turística e comercial da cidade, o Centro também não escapa de eventuais falta d’água. Comerciantes e donos de bares e restaurantes reclamam do prejuízo e contam que precisam usar materiais descartáveis e até mesmo perdem clientes. A solução que encontraram para amenizar o problema foi a instalação de mais caixas d’água e a construção de poços artesianos particulares.
Bueiro vaza há dois dias no Cabanas 
Foto: Carolina Brito
    No entanto, nem todos os moradores podem contar com esse tipo de solução, como no caso dos moradores de repúblicas. Com muitas pessoas numa mesma casa, o consumo acaba sendo maior. Segundo a estudante Rayana Andrade,  quando falta água os gastos aumentam porque é preciso comprar água para beber e cozinhar.
    Procuramos o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) em busca de esclarecimentos sobre a falta d’água em Mariana, mas até o fechamento da reportagem (nov. 2012) não obtivemos respostas.
     De modo geral, Mariana possui grandes contrastes na distribuição de água. Além dos problemas relatados pelos moradores, nos bairros visitados é possível perceber o forte papel do desperdício no cenário de escassez em muitos momentos. Isso faz com que parte da população seja a favor da cobrança de água, o que para muitos ainda é um tabu.


Edição final: Hélen Cristina de Paula | Fotografia: Carolina Lopes Brito | Making of: Israel Marinho Aparecido

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