Desperdício e não pagamento

Por Caio Cesar de Souza Gomes, Lucimara Leandro, Marina Coutinho Ibba e Mateus Alves Franco

“Art. 3º - Os recursos naturais de transformação de água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia”
Declaração Universal dos Direitos da Água

A água é o elemento mais importante para a sobrevivência de todos os seres vivos. Sem ela, o planeta seria desabitado. Cada vez mais escasso, o recuso tem sido usado de maneira inconsciente por uma grande parcela dos seres humanos. Não adianta encontrar algo ou alguém para culpar, é preciso rever atitudes para que o desequilíbrio ambiental seja, ao menos, amenizado.
Jaqueline Almeida Mandarino, bacharel em Filosofia, moradora do centro da cidade reclama do desperdício d´água em Mariana: “As pessoas varrem a rua com água e isso não resolve, pois vai ter poeira de todo jeito”. Para Wolny Ferreira, também morador do centro da cidade, a solução seria o pagamento pela água: “Talvez teriam consciência de que um dia essa água que falta em outros bairros também faltará aqui no centro”. E desabafa: “Meu vizinho lava a garagem e calçada todos os dias, isso para mim é falta de respeito”.
Apesar de se dizer preocupada com o desperdício, Isabel Aparecida Santos Neves, que sempre viveu no bairro Chácara, é contra o pagamento: “Não, não temos que pagar. Aqui em Mariana tem muita água!”, explica. E afirma que costuma limpar seu quintal sem água direto da torneira: “Só lavo o quintal com água de roupa. Só quando eu lavo a roupa que jogo água. E vou fechando a torneira”.



Lares do desperdício

Não foi preciso andar muito pela cidade de Mariana para observar a intensidade do desperdício de água, como no caso de calçadas lavadas diariamente com mangueiras. Segundo Marta Alberto, moradora do bairro São Gonçalo, com a cobrança pelo tratamento de água haveria uma maior preocupação da população até mesmo com relação a manutenção das torneiras. E Jaqueline Mandarino lembra que antes da instalação do SAAE, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana, a situação era ainda pior: “Não existia tratamento de esgoto, ia tudo para o rio, quando chovia a água vinha cheia de lama”. Ao menos para quem mora no centro, segundo ela, isso não acontece mais. Sua posição é favorável ao pagamento:  “Já pago tanto imposto. Mas no Brasil as coisas só funcionam pagando”, disse.

           
     
População flutuante, mudança de comportamento?

Com a ampliação de cursos da Universidade Federal de Ouro Preto no Campus de Mariana, a chegada de estudantes de diversos lugares do país tem sido intensificada. Vindos de cidades onde o tratamento da água é pago, alguns admitem cuidar pra que não haja uso indiscriminado da água. Mas quando chegam em um lugar onde não é preciso pagar, o comportamento muda?
    O estudante de Jornalismo Eduardo, natural de Itabira - MG, afirma que seus hábitos não mudaram. Os banhos não são demorados e ele não gasta água desnecessariamente. Mas confessa que há uma mudança na preocupação, por exemplo, se uma torneira está pingando ou uma descarga está com defeito. Muitas vezes o reparo pode demorar mais, ao contrário de uma cidade onde é necessário pagar mensalmente pelo consumo. Sobre o que observa nas ruas de Mariana, pensando em termos de preocupação ambiental, o estudante acredita que existe uma parcela que se preocupa, “mas existe o pessoal que gasta excessivamente aqui em Mariana”. Ele se diz a favor do pagamento da água e acredita que será um desafio enorme desenraizar o costume do não pagamento: “Em um país que já cobra muito imposto, que tem muita taxa, fazer uma cidade inteira pagar pela água vai ser algo que dará muito trabalho, mas é necessário até mesmo pela conscientização do desperdício”, reflete.


Você é a favor da implantação de um sistema de tratamento de água pago?

Fizemos essa pergunta a 52 moradores da cidade de Mariana -MG. Foram 16 entrevistados no Centro, 14 no bairro Chácara e 20 no Rosário e São Gonçalo. Dos 52, 34 responderam que pagariam e 18 que não.

"Sou contra o pagamento, o SAAE atende muito bem, nunca vi ninguém passar mal por causa da água e esse negócio de pagar só iria aumentar mais uma conta para pagar” - Claudia Maria.

"Sou contra porque já pagamos coisas demais" - Jacera Graziele dos Santos. 

"A cobrança pela água traria mais consciência à população, principalmente na questão de economizar " - Maria das Graças.



Você é a favor de um tratamento de água pago em Mariana-MG?


Edição final: Lucimara Aparecida Leandro e Marina Coutinho Ibba | Fotografia: Mateus Alves Franco | Makking-off: Caio Cesar de Souza Gomeshot

Sem comentários:

Enviar um comentário