Por Bianca Cobra, Fernanda Marques Veiga, Filipe Monteiro da Costa, Iago Rezende de Almeida.
A
imagem de uma pacata cidadezinha do interior sempre tem lugar para um belo córrego. Em Mariana-MG não é diferente: um lugarzinho calmo, conversas na janela e
crianças brincando no jardim. Entrecortada por córregos, algumas de suas
paisagens encantadoras entram em choque com o descaso e o descuido de
parte da população com esse bem precioso.
Mariana
tem diversas faces. Passando pelo universo político, histórico e
universitário, a cidade tem dificuldades em se adaptar ao
desenvolvimento intenso com a chegada de indústrias mineradoras. A mudança repentina de fluxo populacional, atribuída à
constante entrada e saída de estudantes e trabalhadores também é um fator que dificulta
essa adaptação. Os problemas se agravam na paisagem barroca e as águas sofrem com o despejo de esgoto sem tratamento.
Trajetória de erros
Segundo
a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, é impossível saber os pontos
onde o esgoto é despejado diretamente no Córrego do
Seminário. O esgoto afeta praticamente todo o percurso das águas. Eduardo Ataíde, responsável
interino pela Secretaria na época (novembro de 2012), não quis se pronunciar sobre o tema, alegando
que estas funções não seriam da alçada do órgão e sim do SAAE – Serviço
Autônomo de Água e Esgoto. A autarquia afirmou que já existia um Plano
Diretor de Esgotamento Sanitário que prevê a instalação futura de
interceptores e a construção de uma Rede de Tratamento de Esgoto.
Nas
margens dos córregos do Seminário e da Ponte do Moinho há grande
presença de lixo e resíduos, além de dejetos que chegam por encanamento
de esgoto, causando mau cheiro e grande incomodo aos moradores.
A
dona de casa Maria Ângela Moreira, residente na Rua Mestre Vicente, não espera por melhorias: “O esgoto está horrível, quando dá cinco da tarde é
a pior hora por causa do calor. Como não escorre, o cheiro fica
terrível, tem de fechar as portas e janelas de casa”, reclama. A
moradora também questiona o posicionamento de um restaurante próximo,
que acaba por jogar lixo na água, paralisando o escoamento natural: “Em
períodos de chuva o nível do rio sobe e já chegou a inundar aqui. O que
complica é o aparecimento de animais, mosquitos e pernilongos; uma vez
até uma cobra entrou aqui em casa”, relata.
Apesar
da diversidade de problemas enfrentados pela maioria da população
devido à sujeira nos córregos, eles ainda representam fonte de sustento
para algumas famílias.
A busca pelo ouro: uma tradição familiar
Quem
passa pelo córrego Rio do Carmo, que serpenteia o centro histórico da
cidade, avista João Eustáquio dos Santos, aparentemente garimpando nas
águas do rio. Com um sorriso receptivo no rosto, revela aos poucos os
detalhes de seu trabalho, rotina que vem de uma tradição familiar.
Há 30 anos buscando ouro, João afirma que o ofício é “um tesouro”
passado durante gerações. A função é registrada como faísqueiro e não
garimpeiro. Diferentemente deste, pois o trabalho de garimpo utiliza
maquinário, o faisqueiro trabalha com enxada e em uma profundidade
máxima de 50 centímetros. João Eustáquio afirma encontrar ouro no
córrego todos os dias. Sem carteira assinada, mas com casa própria,
sustenta a família com a atividade: ‘’Tudo que é extraído do local já
possui comprador certo’’. Quando chove e o nível do rio sobe, o lucro
diário aumenta significativamente.
Questionado
sobre o tratamento de água do córrego e a quantidade de lixo depositada
nele, é enfático: “O lixo aqui é demais. O caminhão passa pra recolher,
mas pegam de um lugar e jogam de volta no meio da noite. É
vidro, sofá velho, colchão. Uma bagunça. Fora esses trailers ali
do lado (referindo-se à pequenos comércios de alimentos) que também depositam tudo aqui’’, reclama. O faísqueiro,
apesar de conviver com esses problemas, nunca foi acometido por nenhuma
doença. Segundo ele, a Secretaria de Saúde exige que os faisqueiros
façam exames periódicos.
O
problema dos resíduos nos córregos é apenas uma das realidades de
Mariana. Existem outras também bastante peculiares, encontradas no
centro e nos bairros mais afastados da sede da cidade, alguns
históricos.
Edição
final: Bianca Cobra e Ferdanda Marques Veiga | Fotografia: Fernanda
Marques Veiga e Iago Rezende | Making-off: Filipe Monteiro da Costa
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